A partir do dia 5 de agosto, o ‘Vale a Pena Ver de Novo’ traz de volta a doçura e alegria de ‘O Cravo e a Rosa’. Exibida pela Globo originalmente em 2000, a trama marcou a estreia de Walcyr Carrasco, autor da atual novela das 21h ‘Amor à Vida’. Ele assina a autoria da novela ao lado de Mário Teixeira e da colaboradora Duca Rachid. ‘O Cravo e a Rosa’ também marcou o retorno à Globo do diretor Walter Avancini, que assinou a direção geral ao lado de Mário Márcio Bandarra. A direção de núcleo é de Dennis Carvalho.
Definida pelo autor como uma comédia romântica com “muito humor e sentimento”, ‘O Cravo e a Rosa’ mostra diferentes caminhos do amor em uma época de intensa transformação, os anos 20, e retrata o comportamento de uma época, com referências históricas como a transformação da arte, da literatura e das artes plásticas, além da luta pelo voto feminino e da mudança no papel da mulher, com a discussão de temas cruciais como a perda da virgindade. “Os anos 20 tornam verossímeis discussões que hoje são evitadas, mas que ainda estão presentes no coração das pessoas”, explica Carrasco.
Ambientada na São Paulo desta época, a trama central gira em torno da relação entre a geniosa Catarina (Adriana Esteves) e o caipira Petruchio (Eduardo Moscovis), um romance com a contradição de uma mulher moderna que recusa o papel feminino de se restringir a lavar ceroulas em um tanque, e um homem cuja crença é a de que a mulher deve ser a rainha do lar. “É a história de um amor que surge através do conhecimento. Nenhum dos dois pensa em casar, mas eles passam a se amar porque se conhecem, e reconhecem um no outro a beleza interior”, diz Walcyr Carrasco.
Conhecida como ‘‘a fera’’ por botar todos os seus pretendentes para correr, Catarina vai esbarrar na teimosia cínica de Petruchio que, inicialmente, decide conquistá-la para, com o dote do casamento, salvar sua fazenda de ser leiloada. Eles acabam se apaixonando, mas não dão o braço a torcer, protagonizando cenas de discussões muito bem-humoradas. Os demais personagens dividem-se entre os que são contra e a favor da relação. A história é inspirada no clássico “A Megera Domada”, do dramaturgo inglês William Shakespeare, com referências à novela “O Machão”, escrita por Ivani Ribeiro para a TV Excelsior em 1965.
Cenografia, Figurino e Arte
 Catarina Batista (Adriana Esteves) e Juliío Petruchio (Eduardo Moscovis).Crédito: TV Globo / Zé Paulo Cardeal |
A década de 20 é uma época considerada muito rica pelos cenógrafos, figurinistas e produtores de arte. A vida frenética das cidades e a efervescência social, cultural e política aguçam a criatividade. No caso de ‘O Cravo e a Rosa’, o perfeccionismo na reprodução do dia a dia de São Paulo em 1927 salta aos olhos. O capricho pode ser conferido na cenografia, a cargo de Keller Veiga, Juliana Carneiro e Antônio Rogério, que vai retratar vários segmentos da sociedade paulistana da época.
Ao todo são 26 cenários de estúdio, entre eles a casa art nouveau de Batista (Luis Melo), pai de Catarina, representante da fina flor da aristocracia paulistana, uma construção semelhante aos projetos arquitetônicos existentes em Higienópolis e que eram elaborados por arquitetos franceses e italianos; e a casa de estilo art déco onde vive Dinorá (Maria Padilha), a “emergente” de 1927, personagem bem humorada que quer mandar no marido Cornélio (Ney Latorraca), tio de Petruchio.
A cidade cenográfica construída no Projac reuniu quatro espaços em um único complexo, com 24 edificações de arquiteturas diversas. Neste complexo havia um trecho residencial em que se situava a fachada da casa de Batista, que recebeu um tratamento paisagístico específico, com um jardim repleto de azaléias, roseiras, bouganvilles e buchinhos, plantas da época; outra área residencial onde se localizava a fachada da casa de Cornélio; a pensão de Dalva (Bia Nunnes); e a parte principal da cidade, cuja referência é uma fotografia do Largo do Tesouro, que realmente existiu em São Paulo. Neste largo encontra-se a confeitaria Aurora, um colégio, uma igreja, lojas, uma barbearia, a fachada da Revista Feminina onde trabalha Serafim (João Vitti), a pensão onde moram Kiki e as feministas, e a fachada do dancing, núcleo dos músicos da trama. Um dos destaques era o bonde elétrico, com capacidade para 20 pessoas que circulava pela cidade cenográfica. Nas ruas estreitas, postes com fios de telégrafo e lampiões ao lado da iluminação de néon. A periferia da cidade, com as casas simples de lavadeiras, também estava retratada.
Já a fazenda de Petruchio estava localizada num sítio em Ilha de Guaratiba – na zona oeste do Rio de Janeiro – que foi cenografado especialmente para a novela, passando a contar com a casa do protagonista, feita de paredes de pedra, muita fuligem e pó artificial para simular sujeira; o local de fabricação de queijo; o estábulo e os anexos, como o chiqueiro e o galinheiro. Cerca de 20 vacas, dez galinhas, seis porcos e dois cavalos complementavam o cenário.
Para dar o clima de época, a diretora de arte Denise Garrido e sua equipe se esmeraram nos detalhes da decoração. Sete carros Ford modelo T, que vão de 1919 a 1927, circulavam na cidade cenográfica. Vendedores de palha, vassouras, verduras, frutas, utensílios de cozinha e tecidos caminhavam pelas ruas da cidade carregando os objetos arrumados pela produção de arte. Para as cenas de fabricação de queijo na fazenda, a equipe recorreu a uma cooperativa para reservar 30 queijos prontos por dia, além de 60 litros de leite líquido e 60 litros de leite coalhado, usados nas várias sequências. Isto sem falar nos vasos, bandejas e bibelôs que Catarina atira no chão e contra seus pretendentes.
O figurino é um capítulo à parte. Assinado por Beth Filipecki, conta com aproximadamente mil peças, 200 chapéus femininos e 120 masculinos, além de 140 pares de sapatos, acessórios e sombrinhas. A figurinista usou elementos contemporâneos para retratar a ousadia do vestuário da época, ou seja, propôs-se a transportar conceitos estéticos modernos para o ano de 27, criando uma identificação com o público. A atemporalidade do estilo, as nuances nas roupas e acessórios traduzem o prazer de viver da época. Catarina, por exemplo, agrega peças masculinas em seu figurino, como uma gravata despojada, já que ela não segue os padrões tradicionais (seu figurino foi pensado com base nos quadros de Tarsila do Amaral). Bianca (Leandra Leal), irmã mais nova de Catarina, por sua vez, é um personagem de luz, tudo nela é romântico. Kiki (Rejane Arruda), garçonete que faz o tipo femme fatale da época, veste-se como uma melindrosa e é o símbolo da modernidade, vestida com franjas e muito colorido. E Dinorá (Maria Padilha) foi inspirada em Greta Garbo. O segredo está em unir humor, movimento e ousadia.
Os homens se dividem entre os burgueses (que aparecem em ternos de tons clássicos), os almofadinhas, os músicos que seguem a influência americana. Interessante é o núcleo de Petruchio, representativo do Brasil Colonial, que se veste com tecidos pesados e rústicos, com a terra impregnando a indumentária. Um contraponto aos crepes e lãs finas industrializadas dos demais núcleos.
‘O Cravo e a Rosa’ tem estreia prevista para o dia 5 de agosto. O ‘Vale a Pena Ver de Novo’ vai ao ar de segunda a sexta-feira, logo após o ‘Video Show’.